Em 2013, a Intersolar South America abriu as portas pela primeira vez. Qual potencial de mercado atraiu a Intersolar ao Brasil dez anos atrás?
Em 2019, foi realizada a primeira edição de The smarter E South America. Como estavam mudando as oportunidades de negócios no Brasil por volta daquela época?
O sistema energético do Brasil está em mudança contínua. Embora as energias renováveis já formassem a principal parcela da matriz energética, as consequências das mudanças climáticas estimularam um aumento na implantação de sistemas solares e eólicos. Em 2019, o Brasil entrou na lista dos 20 maiores mercados solares do mundo. A rápida expansão das energias solar e eólica transformou a estrutura do sistema de fornecimento de energia. A disponibilidade da energia de fontes renováveis não é uniformemente constante; portanto, a geração, o armazenamento, a distribuição e o consumo de energia precisam ser interligados com inteligência. Esse é o motivo para a criação do evento The smarter E South
America.
Em 2021, o Brasil foi atingido por uma grande seca seguida de uma crise no fornecimento elétrico. No mesmo ano, The smarter E South America atraiu um número recorde de visitantes. Qual foi a repercussão no mercado solar brasileiro e no apoio público e político a soluções alternativas de energia no país?
A seca do século no Brasil sublinhou a relevância da expansão maciça da energia renovável de fontes alternativas. Os principais estímulos ao setor foram a redução do preço por quilowatt-hora de eletricidade solar, a revogação do imposto para importação de produtos da cadeia de valor solar e a nova lei de geração distribuída, que trouxe ao mercado mais segurança e previsibilidade. Agora, o Brasil está preparado para tornar-se um dos
cinco principais mercados do planeta nos próximos cinco anos.
Quais são as perspectivas para The smarter E South America em 2023? Que avanços você espera no mercado e quais temas serão cruciais no evento neste ano de aniversário?
Nossa expectativa é que 2023 será outro ano recorde: mais de 450 expositoras, mais de 50.000 visitantes. Haverá um foco especial em hidrogênio verde, eletromobilidade e empregos em energias renováveis. O Brasil tem potencial para tornar-se um dos maiores produtores e exportadores de hidrogênio verde do mundo. A aceitação de veículos elétricos cresce na América Latina. As energias renováveis são um gerador de empregos: o Brasil é o segundo maior empregador do mundo na área de geração de energia de fontes renováveis.
Muita coisa aconteceu no cenário solar brasileiro nos últimos 10 anos. A regulamentação brasileira do sistema de compensação, ANEEL RN 482/2012, permitindo que a energia FV fosse conectada à rede, completou 10 anos no ano passado, e este ano a Feira & Congresso Intersolar South America completará 10 anos. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica ABSOLAR (www.absolar.org.br) e a
O mundo caminha para 100% de eletrificação, e a energia solar FV está na vanguarda dessa transformação. Cerca de 40 ou 50 anos atrás, quando na França decidiu usar energia nuclear como principal produtora de eletricidade e nos EUA a energia nuclear era apregoada como mais barata do que o custo de medição, usou-se o termo “tout électrique” (totalmente elétrico) para propor que toda tecnologia de aquecimento fosse
elétrica. O custo era o único estímulo e a pressão ambiental era pequena. Hoje, com a pressão do aquecimento global, o termo se refere à mudança
política, energética e tecnológica da transição energética que visa substituir os combustíveis fósseis por eletricidade, e é atualmente utilizado principalmente no contexto da setor automobilístico dos veículos elétricos. Mas o termo pode ser utilizado em qualquer contexto onde o uso de combustíveis é substituído por aparelhos, processos ou veículos elétricos, seja em casa, na indústria, no comércio, ou em qualquer lugar. A eletrificação fará dobrar ou triplicar a demanda por eletricidade, e a energia solar FV poderá ajudar a atender a carga adicional. Efetivamente, nos últimos seis anos ou mais, a energia solar FV predomina no mundo em volume anual de novas implantações de geração de eletricidade, e atualmente esse volume é maior do que a soma de todas as outras tecnologias de geração de energia, tanto renováveis quanto convencionais, incluindo eólica, carvão, gás natural, nuclear, biomassa, hídrica, solar térmica e geotérmica.
Com a maior usina hidrelétrica do Brasil –Itaipu– completando 50 anos este ano, a rápida evolução da energia solar FV nos últimos 10 anos evidencia que, em breve, essa tecnologia benigna e competitiva de conversão de energia solar estará dominando o mercado de eletricidade no país.
No início deste ano, a energia solar FV suplantou a eólica no Brasil, após suplantar a biomassa e o gás natural no ano passado, tornando-se a
segunda maior capacidade instalada de geração de eletricidade, conforme mostra a figura à direita. Enquanto Itaipu levou mais de 10 anos para
construir e outros mais de 10 anos para atingir a capacidade total, a energia solar FV levou 10 anos para instalar em mais de 1 milhão de telhados
espalhados pelo país: a mesma capacidade e –o mais importante– com investimento financeiro feito diretamente por cada consumidor que optou
pela tecnologia. O governo não contraiu nenhuma dívida com a captação de energia solar FV no país.
No ano passado, a energia solar FV ultrapassou 1 TW de capacidade instalada no planeta. A implantação da energia solar FV aumenta exponencialmente em todo lugar. A capacidade solar FV global instalada cresceu 500 vezes nos últimos 20 anos. Em 1985, quando a atual tecnologia PERC da indústria FV ainda era uma inovação que levaria ainda mais 20 anos para dar frutos, a produção anual total de módulos fotovoltaicos era inferior a 25 MWp. Hoje, muitos fabricantes individuais “Tier 1” de módulos fotovoltaicos produzem 25 MWp por dia! A taxa anual de implantação cresceu em cerca de 18% nos últimos anos no mundo todo. As projeções futuras desse crescimento mostram que a capacidade instalada de energia solar FV ultrapassará a soma da energia nuclear, hidrelétrica, gás natural e carvão em 2031.
Em 2013, quando a Intersolar South America foi realizada pela primeira vez no Brasil, a situação era bem diferente. Mas já havia esforços e
mecanismos para abrir um caminho seguro para a prosperidade da energia solar FV. O vigoroso desenvolvimento resultou do esforço conjunto de todos os envolvidos –indústria, integradores de sistemas, empresas promotoras de eventos, academia e associações–, e será ainda mais acelerado com a aporte dos setores de armazenamento de energia, de hidrogênio verde e de eletromobilidade, que vêm se tornando componentes cada vez mais importantes da Intersolar South America.
A expansão da oferta de energia no Brasil e a diversificação de sua matriz energética passam pelo desenvolvimento da energia solar fotovoltaica. Em dez anos, essa fonte tornou-se a segunda maior geradora de energia elétrica e a que mais cresce no país Nesse período, o mercado solar fotovoltaico evoluiu, as tecnologias tornaram-se mais eficientes, os custos caíram, a regulação foi aprimorada e a capacidade instalada atingiu valores acima de 29 GW.
Ainda incipiente entre 2012 e 2015, a geração solar FV no Brasil atingiu 1 MW em 2016. Após 2017, o crescimento foi mais significativo, inicialmente por meio dos leilões de energia e depois pela Geração Distribuída (GD), com destaque para 2020 a 2022. É perceptível um grande acréscimo em 2022, ano em que a publicação do Marco Legal da GD trouxe novas regras para o setor e um prazo limite para que consumidores pudessem compensar de forma mais atrativa os créditos advindos da geração.
A evolução da geração solar FV é influenciada principalmente pelo avanço da GD, que representou 68% do volume adicionado à rede em 2022. Na modalidade de Geração Distribuída o destaque vai para a microgeração, que cresceu nos últimos dez anos e hoje representa 86,6% do volume de GD conectado. A classe residencial, que foi responsável por mais da metade da capacidade adicionada em 2022, lidera esse avanço.
Com relação à Geração Centralizada, que atingiu 8 GW de capacidade instalada no início de 2023, a participação nos leilões de energia no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) vem se alterando. Após grandes quantidades comercializadas entre 2014 e 2018, houve queda nos últimos anos, tendo em vista a menor necessidade de contratação por parte das distribuidoras de energia elétrica e o avanço do Mercado Livre.
Atualmente, 96% das usinas outorgadas participam do Ambiente de Contratação Livre (ACL).
Analisando a participação da energia solar nos leilões, inicialmente presente nos Leilões de Energia de Reserva (LER) e posteriormente em Leilões de Energia Nova (LEN), o preço da energia contratada, que era de R$215,12/MWh em 2014, chegou a R$67,48/MWh em 2019 e R$171,41/MWh em 2022. A queda de preços dos sistemas fotovoltaicos com o passar dos anos ajuda a explicar a evolução da fonte no Brasil. No caso da GD, para sistemas residenciais de 4 kWp, o preço em junho de 2016 era de R$ 8,77/Wp e em janeiro de 2023 esse valor caiu para R$ 4,39/Wp, representando uma queda de 50% no período. Sistemas comerciais, de 50 kWp, tiveram uma redução de 47% no mesmo período, de R$ 7,00/Wp para R$ 3,73/Wp. Com a redução de preços, a importação de módulos fotovoltaicos atingiu o patamar de 17,8 GW em 2022, indicando investimentos superiores a R$64 bilhões para GD e GC. Esse volume representa mais que o triplo das importações em 2020, que atingiram o valor de 4,8 GW. Em 2022, o Brasil foi o segundo maior país do mundo a importar módulos da China, ficando atrás apenas da Holanda.
Pode-se também observar o avanço desse mercado pelo aumento expressivo do número de empresas no setor. Numa pesquisa GD realizada
com integradores de todo o Brasil, a Greener estimou que em 2022 já havia mais de 31.000 empresas integradoras ativas no mercado –um
número significativamente maior do que as 2.500 empresas em 2017.
As cifras demonstram que esse mercado é uma importante fonte de empregos, atingindo a marca de 750 mil vagas geradas durante os dez anos de
energia solar FV no Brasil. Os dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA) apontam que até 2021 o Brasil figurava entre
os dez maiores países do mundo na geração de empregos no setor solar fotovoltaico.
O mercado brasileiro de energia solar FV obteve um notável crescimento nos últimos dez anos, tornando-se um dos mercados de energia renovável mais promissores do mundo. O enorme potencial solar em toda região do país faz do Brasil um mercado
Computando-se tanto usinas de grande porte quanto sistemas de pequeno e médio porte instalados em telhados, fachadas ou pequenos terrenos, a energia solar FV soma mais de 26 GW de capacidade operacional instalada e tornou-se a segunda maior fonte de energia elétrica do Brasil, respondendo por 12% da matriz energética.
Em uma década no Brasil, a energia solar FV já trouxe ao país mais de R$ 129,6 bilhões em novos investimentos, segundo a ABSOLAR. Além disso, a energia solar evitou a emissão de 34,5 milhões de toneladas de CO₂ na geração de eletricidade e recolheu mais de R$ 39,7 bilhões aos cofres públicos.
Esse crescimento não passou despercebido por empresas do mundo todo. Muitas empresas estrangeiras e nacionais têm forte presença no país, contribuindo para o crescimento do setor e aumentando sua competitividade tecnológica.
Uma das chaves para esse sucesso foi o ambiente regulatório favorável no país para a geração distribuída. A aprovação da tão aguardada Lei nº 14.300/2022 no marco legal da geração distribuída trouxe mais segurança jurídica, estabilidade, previsibilidade e transparência ao mercado, e há de acelerar ainda mais esse crescimento. Em 2023 e além, a expectativa é que o aumento dos preços de eletricidade, juntamente com a queda dos preços de sistemas, continue dando impulso à geração distribuída de energia solar FV.
A ABSOLAR prevê que a energia solar terá um robusto crescimento este ano, estimulada pelo alto custo da energia elétrica e pelos benefícios auferidos tanto com o uso da energia solar como solução estratégica na redução de gastos com energia, quanto com o fortalecimento da sustentabilidade. A fotovoltaica é cada vez mais procurada, atinge todas as classes sociais e tem um efeito positivo multiplicador na sociedade.
O Brasil também vê progressos significativos em usinas solares FV de grande porte. Desde 2020, foi cadastrado na ANEEL um número recorde de novos projetos de geração centralizada, a maioria dos quais é voltada para o mercado livre de energia elétrica.
Usinas FV de grande porte geram eletricidade a um preço até dez vezes menor do que a gerada por usinas termelétricas de emergência ou importada de países vizinhos. Graças à versatilidade e agilidade dessa tecnologia, leva menos de 18 meses entre um leilão e a ligação de uma instalação solar FV. A energia solar FV é reconhecidamente a tecnologia líder quanto à velocidade com que novas usinas são adicionadas ao sistema.
O avanço da energia solar é essencial ao desenvolvimento social, econômico e ambiental do Brasil. A energia solar FV diversifica o fornecimento de energia, reduz a pressão sobre recursos hídricos limitados e ajuda a mitigar os efeitos de aumentos nos preços de eletricidade. A expansão da energia solar também agiliza a transição energética do Brasil em direção à sustentabilidade.
Apesar do impressionante progresso, a energia solar FV ainda tem desafios a enfrentar no Brasil. Um dos principais gargalos relaciona-se à falta de infraestrutura de transmissão em algumas regiões, restringindo o desenvolvimento de projetos de grande porte. Situação semelhante vivencia a geração distribuída, que passou a apresentar dificuldades na conexão à rede.